segunda-feira, 6 de junho de 2016

Capítulo XIII


 Parti, prometendo uma partida provisória.
Perambulei, peregrino e profano, por palácios e por pardieiros, fossem públicos ou privados... Percorri palavras e pensamentos, de príncipes e de párias, de palatinos e de patifes, de prelados e de pagãos...
Perambulei pelo permitido e pelo proibido, pelo puro e pelo promíscuo...
Perambulei pelas casas dos pobres, seus pensamentos e suas palhoças, sua perseverança, sua penúria em meio a uma profusão de privações.
Perambulei pelas casas das putas, seus pensamentos e as partes pouco pudicas de seus preciosos corpos... Procurei prazer na proximidade das peles, pureza na paciência pungente de suas piedades, e perigo nas profundezas de seus pensamentos.
Perambulei pelas casas dos padres e dos pastores, seus pensamentos e seus picadeiros pantomímicos, onde uma plateia parva se perde em preconceitos perante um púlpito que proclama o que é o pecado, que promete a punição, que propaga o pânico...! Púlpito esse que, por mais que pregue a penitência, postula a prosperidade; que, por mais que pregue a pobreza, pede em prata o pagamento pelo perdão; pede em prata o pagamento pelo progresso; pede em prata o pagamento que perdoe a prática da perversão...! Mas o próprio púlpito já provoca a perversão, já pratica a perversão: o púlpito, em si, perverte; perverte o pensamento.
 Perambulei pelas casas dos políticos, seus pensamentos e seus prostíbulos de palanque, a pouca profundidade de seus princípios e promessas perante o povo... A parolice patife de suas palavras ao postular o poder, e a prepotência pedante de seus procedimentos ao nele se perpetuarem...! A paralisia pantanosa de suas posturas quando pressionados, a pequenez de suas preocupações com o que lhes é particular...! A peçonha que põem em penhor quando prometem.
Perambulei pelas casas de pesquisadores, seus pensamentos e seus paradigmas... Piolhos de parasitas, parasitas de patrimônio que pervertem o que proclamam querer fazer progredir, que põem preço no progresso...
Perambulei.
Perambulei pelas casas dos professores, seus pensamentos e seus pupilos, seus precipícios e suas pontes... Preceptores que pairam... Patrulhas do pífio, presságios da posteridade, proas do porvir, pulos do presente, profecias para o passado...
Perambulei pelas casas dos palhaços, seus pensamentos e sua perspicácia, a polidez pueril com que presenteiam o pranto... E com a qual o proclamam proscrito...
Perambulei pelas casas dos poetas. Poesia é passaporte para o paraíso. Poesia é prece.
Perambulei pela paixão. Punhal que perfura, prostra, pincha, prova, proporciona e priva...
Perambulei. Percebi o possível parcamente plausível. Percebi ter sido produzido a partir de uma pouco provável liga de plutônio com polônio.
Mas prometera uma partida provisória.
Voltei à propriedade do Velho.