Parti, prometendo uma partida provisória.
Perambulei, peregrino e profano, por palácios e
por pardieiros, fossem públicos ou privados... Percorri palavras e pensamentos,
de príncipes e de párias, de palatinos e de patifes, de prelados e de pagãos...
Perambulei pelo permitido e pelo proibido, pelo
puro e pelo promíscuo...
Perambulei pelas casas dos pobres, seus
pensamentos e suas palhoças, sua perseverança, sua penúria em meio a uma profusão
de privações.
Perambulei pelas casas das putas, seus pensamentos
e as partes pouco pudicas de seus preciosos corpos... Procurei prazer na
proximidade das peles, pureza na paciência pungente de suas piedades, e perigo
nas profundezas de seus pensamentos.
Perambulei pelas casas dos padres e dos
pastores, seus pensamentos e seus picadeiros pantomímicos, onde uma plateia parva
se perde em preconceitos perante um púlpito que proclama o que é o pecado, que
promete a punição, que propaga o pânico...! Púlpito esse que, por mais que pregue
a penitência, postula a prosperidade; que, por mais que pregue a pobreza, pede
em prata o pagamento pelo perdão; pede em prata o pagamento pelo progresso; pede
em prata o pagamento que perdoe a prática da perversão...! Mas o próprio púlpito
já provoca a perversão, já pratica a perversão: o púlpito, em si, perverte; perverte o
pensamento.
Perambulei
pelas casas dos políticos, seus pensamentos e seus prostíbulos de palanque, a
pouca profundidade de seus princípios e promessas perante o povo... A
parolice patife de suas palavras ao postular o poder, e a prepotência pedante de
seus procedimentos ao nele se perpetuarem...! A paralisia pantanosa de suas
posturas quando pressionados, a pequenez de suas preocupações com o que lhes é
particular...! A peçonha que põem em penhor quando prometem.
Perambulei pelas casas de pesquisadores, seus
pensamentos e seus paradigmas... Piolhos de parasitas, parasitas de patrimônio
que pervertem o que proclamam querer fazer progredir, que põem preço no
progresso...
Perambulei.
Perambulei pelas casas dos professores, seus
pensamentos e seus pupilos, seus precipícios e suas pontes... Preceptores que
pairam... Patrulhas do pífio, presságios da posteridade, proas do porvir, pulos do presente,
profecias para o passado...
Perambulei pelas casas dos palhaços, seus
pensamentos e sua perspicácia, a polidez pueril com que presenteiam o pranto...
E com a qual o proclamam proscrito...
Perambulei pelas casas dos poetas. Poesia é
passaporte para o paraíso. Poesia é prece.
Perambulei pela paixão. Punhal que perfura, prostra,
pincha, prova, proporciona e priva...
Perambulei. Percebi o possível parcamente plausível. Percebi ter sido produzido a partir de uma pouco provável liga de plutônio com polônio.
Mas prometera uma partida provisória.
Voltei à propriedade do Velho.